sábado, 5 de fevereiro de 2011

Matar ou morrer



A maneira mais fácil que encontrei para ver Matar ou morrer quando não mais o aturava (ali pela sua metade) foi considerá-lo como a sua própria canção-tema. Neste ponto, é importante diferenciar o uso da canção popular neste filme dos filmes de John Ford, por exemplo. No último, a música antecede o filme, e funciona como suporte para a reconstrução de um fenômeno cultural/histórico (o próprio western, como gênero, o é); no primeiro, ela nasce com o filme, transformando-se em seu duplo. Sendo assim, somos expostos a dois produtos (música e filme), simultaneamente, que, ao venderem a mesma idéia, confundem-se. É como se a ficção precisasse ser creditada, validada, como se não existisse independente e acima de qualquer suposição de verdade (como o cinema o é). Nesta inversão do processo, o filme acaba tornando-se veículo para a divulgação da sua música (como a propaganda ou o videoclipe o são).

O maior problema do filme, no entanto, é minar o seu grande trunfo (a tensão construída em torno da figura de Frank Miller, que só aparece em seus dez minutos finais) para explicitar o conflito covardia x coragem que o material insiste em promover grosseiramente, mas sob planos esteticamente agradáveis, de uma virtuose que lembra Leone.

A tensão só é restabelecida quando resolve-se fazer cinema novamente: o tempo, que antes se arrastava, para completamente, o xerife escreve seu testamento, rostos (o medo, a angústia, a indiferença, o sentimento de impotência) são mostrados como em um compêndio, interrompido bruscamente pelo apito do trem que parece rasgar a tela, anunciando o seu desfecho, inicialmente temido, mas com o tempo profundamente desejado.