domingo, 23 de janeiro de 2011

Fados


Não gosto da estrutura do filme. Lembra uma peça ruim de teatro, uma apresentação desinteressada, em Power Point, daquelas com fundo exagerado, ou um festival de colégio. É um panorama simples, sem interesse na imagem nem, o que é pior, no som. É pesquisa, não cinema, o que me leva a questionar a necessidade de se apresentar o material em formato fílmico.
O desfecho, um plano que mostra o set com o auxílio de uma grua, seria bem mais interessante se o filme não insistisse na idéia do estúdio, de homogeneizar o seu conteúdo. Saura faz questão de explicitar isso, mas tem medo de mostrar uma câmera, um microfone. Prefere esconder tudo atrás das apresentações baratas de dança que acabam, provavelmente sem tal intenção, por deixar o fado e seu intérprete (de fundamental importância) em plano de fundo. Parece que o fado atravessou o tempo e o espaço, mas o diretor preferiu ficar em casa.
No fim das contas, deixa a impressão de que tudo em um fado fica bonito, e tudo com o Toni Garrido fica ruim.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Mad Max



A pior cena de perseguição de carro. A pior cena de uma mulher tocando sax. Seguidas.

Aos quinze minutos, já queria desistir. Mas pelo menos tem belos planos da bunda de um young Mel Gibson. Deve ser por isso que o pessoal gosta tanto.

De resto, bobagem atrás de bobagem.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A questão coxinha


Por volta de 2005 ou 2006, uma das salas do Circuito Sala de Arte, em Salvador, ameaçou de fechar. No lugar, funcionaria a cozinha de uma delicatessen (a dona da melhor coxinha com Catupiry da cidade, que o diga a Veja Salvador). Comoção pública: “Céus, fecharam um cinema! E por dívidas! Cadê a intervenção do Estado? Não podemos deixar o capitalismo destruir a cultura!”. À época, o tal circuito (um grupo privado, diga-se) era composto de três salas: Bahiano, Museu Geológico, Cine XIV. Hoje, a Perini (delicatessen em questão) está devidamente instalada. A rede (de delicatessens) foi vendida, cresceu pouco, e piorou na qualidade. O grupo Sala de Arte, entretanto, abriu cinco novas salas. E aí vem a pergunta: e a qualidade dos filmes? A mesma, talvez pior. De lá pra cá, o “mito do filme europeu” cresceu, e muito. Junto, veio a projeção digital, a “democratização” (leia-se: redução de custos, destruição da imagem) de filmes com poucas cópias*.

A história se repete em São Paulo. O fetiche não tá só na fotografia “Walter Carvalho”, passou ao espaço físico. Sala e programação parecem ter se fundido em um processo desejado pelas classes mais altas de que a segregação social chegue ao cinema (já chegou).

E eu que vou ficar parecendo o reacionário. O engraçado é que esse pessoal é provavelmente o mesmo que vem reclamar de editais de cultura: “Gastar dinheiro com um filme que ninguém vai ver? Disparate!”.

“É projeção digital? Foda-se, é europeu, é de qualidade”. Nas entrelinhas, lê-se bem fácil “Onde irei comer meu croissant e tomar meu cappuccino antes de uma sessão vazia?”. Eu ainda prefiro que tenha mais um lugar vendendo minha coxinha do que um lugar exibindo os mesmos filmes, e ainda em janelas erradas e com imagem escura.

Minha coxinha piorou, e não encontro ninguém para fazer protesto, abraçar um frango ou qualquer coisa (não pegaria bem, é de um grupo privado, e nem é vegetariano). Ninguém tombou (deveriam, pergunte a qualquer baiano sobre a coxinha), mas coloquem um filme do Spielberg para passar em uma Sala de Arte que vocês verão a comoção.

* O cinema do MAM é o único que continua exibindo filmes em seu formato original.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011