domingo, 2 de dezembro de 2012

Moonrise Kingdom

Moonrise Kingdom é a assunção da condição cartógrafo por Anderson. Não à toa, passa os primeiros quinze minutos a descrever o espaço no qual a narrativa será conduzida. Na verdade, é mais um filme-descrição que um filme-narrativa. Os limites de espaço e tempo são definidos no início do filme, e de certa forma, tornam este universo inalcançável e inescapável - ausência de horizonte. Trata-se de um ambiente hermético, isolado, sem inputs ou outputs, pressuposto de alguns experimentos científicos -filma mais como um projeto de laboratório do que uma casa de brinquedo. Há pouco ou quase nenhum interesse pelos personagens, tratados como fantoches. Não são mais estes que se encontram deslocados no mundo, como em seus filmes anteriores. É o próprio mundo que está deslocado. E, por mais que as premissas pareçam interessantes de um ponto de vista científico - meio manipulado, variáveis conhecidas e controladas -, falta o essencial: a hipótese. Não há o que se testar, pois o objeto de interesse - estudo - é o mundo por ele mesmo criado - não os personagens; sem uma hipótese a ser testada, o projeto fada-se ao fracasso, é natimorto. Enxergamos os dados - descritos - mas não sabemos o que fazer com eles. Pretende-se ecologia, mas está mais para zoologia ou botânica. Sobre a questão suscitada pelo Alpendre, nada mais natural ao Anderson do que filmar o mundo como uma casa de bonecas, o que não acho condenável em sua essência. Assistir Moonrise Kingdom é voltar à infância, imaginar mundos debaixo de lençóis esticados em forma de barracas de acampamento. Cada tentativa de frustrar o plano dos protagonistas soa como um "Já pra cama!". Wes Anderson quer falar de adultos, mas como uma criança, concentra todo o seu interesse nos mundos que imagina. Afinal, adultos são patéticos - ideia cristalizada na própria imagem do chefe de escoteiros.